Barroso sobre Lava Jato: “Já conseguimos separar o joio do trigo”

Texto de Letícia Gonçalves e Vinícius Valfré (A Gazeta)

Entre frases bem encaixadas e um otimismo sem ingenuidade, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso exibiu nesta segunda (26), em Vitória, não somente sua capacidade de oratória mas também a defesa enfática do combate à corrupção. “Descobrimos o que éramos, do ponto de vista da política e dos negócios. E não gostamos do que vimos. Paramos de varrer a sujeira para debaixo do tapete”, sentenciou, durante palestra no evento “Diálogos sobre Integridade”, realizado pela Rede Gazeta em parceria com a Unimed Vitória, a ArcelorMittal e o governo do Estado.

Foto: Fernando Madeira
Ministro do STF, Luís Roberto Barroso, em palestra no evento Diálogos sobre Integridade, da Rede Gazeta

“Já conseguimos separar o joio do trigo. O problema é a grande quantidade de pessoas que prefere o joio”, complementou. O ministro não poupou críticas a benefícios obtidos por autoridades e empresários, que contribuem para a “cultura da desigualdade”, listada por ele como uma das causas da corrupção no país.

“Se nem todos são iguais, cada um vai em busca do seu privilégio. As pessoas estão perdendo a autocrítica”, pontuou. Como exemplos de privilégios, o ministro citou o foro privilegiado, os carros oficiais e o auxílio-moradia. Este último será discutido pelo Supremo no dia 22 de março.

O ex-advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, também palestrante no “Diálogos sobre Integridade”, compartilha do otimismo do ministro Luís Roberto Barroso quanto às perspectivas para o país. Entretanto, há várias questões de divergência. Uma delas é quanto ao foro privilegiado.

“O foro privilegiado foi eleito como uma bandeira equivocada, não deveria ser uma bandeira prioritária. Não se comprovou que ele é a causa da impunidade no Brasil. Poderia ter uma redução pequena, talvez, mas achei que foi uma bandeira um pouco demagógica que o Supremo pegou. Não o Supremo, o Ministério Público Federal pegou essa bandeira e a radicalização. Vai botar tudo na primeira instância? Vai demorar muito mais para ser julgado”, analisou, em entrevista para A Gazeta.

Foto: Fernando Madeira
O diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Eugênio Ricas

Ao lado deles, o membro da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, e o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Eugênio Ricas, debateram sobre as dificuldades encontradas pela Lava Jato e seus objetivos a longo prazo.

“Precisamos estar atentos. O momento de mudança é agora, começa agora, nas eleições de 2018, porque a Lava Jato é só um momento histórico em que expusemos o problema para a população. Mas a Lava Jato não é a solução para o problema. Nenhum de nós tem capacidade de encaminhar soluções”, afirmou Lima.

O evento “Diálogos sobre Integridade” também contou com apoio da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), do Espírito Santo em Ação e do Sistema OCB.