A nova geração da televisão está chegando. A chamada TV 3.0, muito em breve, vai possibilitar a personalização da programação, um avanço para a experiência do telespectador e que possibilitará novos modelos de negócios, no que se refere a comerciais e formatos publicitários. A análise é de PH Castro, ex-diretor do Mediatech Lab, da Globo, que esteve em Vitória no último dia 6 de fevereiro, para o lançamento da terceira edição do Reinventa, programa de inovação da Rede Gazeta.

PH, que vai atuar como consultor técnico da jornada de inovação de diferentes times da Rede Gazeta este ano, conversou com A Gazeta sobre a revolução da televisão, o cenário atual, oportunidades, ameaças e sobre a maneira como o público se relaciona com as marcas. Confira o bate-papo a seguir:

PH Castro, especialista em Inovação

Como ter a inovação como uma aliada para a evolução da TV?

Na abertura do Programa Reinventa, o Café Lindenberg (presidente da Rede Gazeta) falou algo que também sempre falo: que hoje a inovação está na moda. Ou seja, qualquer empresa tem um grupo de inovação. Mas empresas como a Globo, onde eu trabalhei por 27 anos e a própria Rede Gazeta não estariam hoje deste tamanho, com a força que têm, se elas não estivessem constantemente inovando. Então, o que mudou no mundo efetivamente foi a velocidade das mudanças do ecossistema que a gente está inserido e os competidores. O contexto mudou e fez com que a gente tivesse uma aproximação diferente para a inovação. Mas a inovação é essencial em qualquer grupo ou mídia de comunicação, porque a sociedade vai se transformando e as demandas vão mudando também.

Como acompanhar todas essas transformações?

Para acompanhar tudo isso, temos que ter tudo estruturado agora, com metodologias desenvolvidas para isso. Metodologias estas que foram desenvolvidas dentro de bigtechs, que são empresas que há pouco tempo existiam em garagens e hoje em dia são gigantes no mercado. Temos que “beber” disso, da melhor fonte. Então, esta inovação, agora estruturada, pode ajudar muitas as empresas.

O que muda com a TV 3.0?

O tema do momento é a TV 3.0, que é a próxima geração da televisão. A gente saiu da TV analógica para a TV digital e, quando isso aconteceu, foi um salto. Agora, a TV 3.0 vai ser a integração dos mundos: broadcast – que é a radiodifusão -, com o mundo da internet, pegando os melhores atributos de cada um deles. Então, com a TV 3.0, você vai ter a questão da personalização e da agilidade, mantendo a segurança. E é isso que gera valor para o telespectador, para o público e também para o anunciante. A grande revolução do que está por vir é sobre a maneira de se relacionar com as marcas e de se relacionar com o consumo.

A TV 3.0 vai proporcionar uma melhor experiência para o telespectador?

Existem várias ferramentas que vão ser colocadas juntas para permitir que haja uma personalização efetiva. Por exemplo, pode chegar uma terça-feira em que haverá a pessoa que perdeu o jornal da hora do almoço mas que quer saber as notícias; outra que quer ver a novela do “Vale a pena ver de novo”, e outra que queira ver a série que passou na noite anterior. Essas pessoas querem ver isso no mesmo momento, cada uma com seu interesse.

A TV 3.0 tem um background, uma estrutura, que tem cada vez mais conhecimento do consumidor, como acontece com as mídias digitais, e ela começa a te oferecer conteúdos que você gostaria de ver naquele momento, ou mesmo antecipar, com uma entrega personalizada. Por que ela faz isso? Porque a TV 3.0 combina a transmissão broadcast com a broadband. Para a experiência do consumidor, isso é simplesmente assistir o programa que quer assistir, na hora que ele quer, sendo entregue da melhor forma possível.

No que tange a tecnologia, quais os ganhos desse modelo?

Quando falamos em tecnologia, a grande revolução não só da TV, mas em quase todas as áreas é o uso da inteligência artificial. Com ela você consegue ter ganhos de produtividade, possibilidade de testar e simular várias coisas. Às vezes, muitas pessoas têm preconceito com IA. Mas esse mundo digital paralelo – onde algumas crianças e adolescentes já vivem uma parte do tempo, por meio de jogos – vai ser integrado de tal forma que não será possível ter a distinção entre os mundos, eles vão estar integrados por meio da IA.

Na sua visão, quais são as ameaças e quais as oportunidades que essa revolução vai trazer para o mercado?

Tudo isso pode ser tanto ameaça quanto oportunidade. Oportunidade é para quem estiver preparado para explorar este território. E a ameaça é que se você não fizer nada, ficar para trás. O jornal impresso, por exemplo, aqui na Rede Gazeta, foi descontinuado porque começaram a surgir outras formas de as pessoas se informarem. A notícia que ocorre hoje ninguém espera o dia seguinte para ler, ela sai online, na hora. Se os meios de comunicação tradicionais não realizarem nenhum tipo de mudança ou movimento de renovação, outros meios vão aparecer explorando novas mídias e ferramentas, esse é um exemplo de ameaça. Mas se você explora e usa as ferramentas disponíveis, tem uma superoportunidade.

A TV 3.0 é futuro distante ou uma realidade próxima?

Nos laboratórios as ferramentas já estão sendo testadas. Existem várias coisas sendo montadas, literalmente com ferramentas como alicate, chave de fenda, martelo… escolhendo e montando tudo o que vamos precisar lá na frente. Então estamos na fase de testes, um trabalho na fase da área de tecnologia e engenharia. Pensando em negócio, neste momento precisamos que as empresas desenhem cenários: eu gostaria de explorar isso, seria interessante aquilo para o público. Depois que estiver tudo desenhado, precisa ser regulamentado pelo governo para poder explorar este modelo de negócio. Todo este trâmite deve ocorrer mais ou menos entre o final deste ano e início do ano que vem.

Então é de se esperar que este ano seja intenso de discussões e o próximo de realizações de testes e implantações para um lançamento comercial. Quando estiver efetivamente pronto, seguro e robusto para acesso do consumidor.